Seis meses

Um semestre sem Mais Médicos

O cenário ainda é considerado crítico em Pelotas e a população que recorre à rede básica continua sentindo os efeitos da saída dos profissionais

Seis meses após o anúncio do governo cubano de se retirar do Programa Mais Médicos, o cenário ainda é considerado crítico em Pelotas e a população que recorre à rede básica continua sentindo os efeitos da saída dos profissionais. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), nove médicos deixaram o programa no município e não foram repostos. Nesse momento, Sítio Floresta e Simões Lopes são as áreas mais carentes. Ainda em 2019, outros seis também poderão se desligar, sem previsão de reposição por parte do governo federal. Para amenizar o problema, o Ministério da Saúde (MS) está investindo em alternativas.

Após a saída dos nove profissionais, a atual gestão passou a fazer remanejos de forma a equacionar o problema em todos os bairros. No entanto, nas Unidades Básicas de Saúde do Simões Lopes e Sítio Floresta não foi possível cobrir completamente a necessidade. O atendimento na zona rural também está prejudicado. As UBS de Corrientes, Posto Branco e Colônia Maciel, por exemplo, estão compartilhando médicos para que o serviço possa continuar ativo. Por outro lado, os problemas na Colônia Osório foram resolvidos aos poucos, afirma o secretário da SMS, Leandro Thurow. Porém, "à medida que mais médicos forem se desligando, provavelmente teremos novos problemas", adianta.

A alternativa do Ministério da Saúde
Thurow está participando de um curso de Preceptoria do Sírio Libanês, em São Paulo. Se trata de um curso de gestão de programas de residência, uma das alternativas que o MS acredita ser possível solução para repor das vagas do Mais Médicos. O objetivo é investir na construção destes programas para médicos recém-formados, visando ter uma maior quantidade de profissionais disponíveis para trabalhar. "É uma orientação geral para cidades universitárias", explica.

Ainda é cedo para pensar em resultados. Não é possível fazer projeções, pois o curso na capital paulista teve início na última quarta-feira e se estende até 2020. A médio prazo, a ação poderá ser colocada em prática. Dessa forma, conforme o andamento do curso, ao longo de 2019 será elaborado um projeto de intervenção, de forma a levantar os possíveis caminhos para implementar o projeto. "Acredito que deve ser construído ao longo deste ano, pensando no próximo ano", completa o secretário.

A situação no Simões Lopes

De acordo com o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Luiz Guilherme Belletti, as reclamações - tanto por parte da comunidade quanto dos próprios profissionais - são recorrentes no Simões Lopes, Sítio Floresta, Balsa e Getúlio Vargas, onde a situação é mais precária. Na visão da médica Maria Laura Nogueira, que trabalha na Unidade Básica de Saúde do Simões Lopes há 17 anos, a atual conjuntura se deve ao fato de o número de habitantes ter crescido bruscamente no local. Somado a isso, está o empobrecimento, que leva a população a recorrer ao SUS.

O cenário anterior era mais favorável: três equipes de saúde da família - formadas por médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e agentes de saúde - eram responsáveis pelo atendimento. Hoje, não há médicos para essa estratégia. Agora, as ações preventivas são deixadas de lado, ou seja, se trata mais do que se previne. Com ela, há outras duas profissionais que atuam na Rede Bem Cuidar, programa que tem como objetivo promover o acolhimento, integrando pacientes e servidores. A ideia é ouvir e dar uma resposta, que poderá ser instantânea ou longitudinal. Juntas, as três conseguem dar conta do trabalho.

No entanto, o ideal seria compor novamente as equipes de saúde da família. A localidade é vulnerável, segundo Maria Laura. Há muitos idosos e crianças, grupos que mais necessitam de prevenção e acompanhamento nos tratamentos. "Precisa de médico, precisa de equipe e a equipe tem que estar completa", ressalta. A médica reconhece o grande esforço que vem sido feito pela Secretaria Municipal de Saúde na busca por profissionais para repor o quadro. A situação é delicada, mas a unidade - junto a do Sítio Floresta - tem prioridade. Dessa forma, à medida em que novos médicos chegarem, serão encaminhados para lá.

Gereci dos Santos tem 61 anos e está sofrendo com problemas ortopédicos. Além disso, convive com a depressão e hipertensão. Desde que se mudou para o Simões Lopes, há duas décadas, ela frequenta a UBS do Simões Lopes. Hoje, ela considera o serviço demorado, diferentemente de anos atrás, quando havia mais médicos disponíveis. Porém, a principal reclamação de Gereci é referente ao seu atual problema. Entre idas e vindas à unidade, carregando radiografias, a alegação dos profissionais é de que não é possível avaliar os exames, pois isso não se encaixa no programa de acolhimento. A carência, portanto, é visível. "Tá bem complicado", lamenta.

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